30.12.05

Imprensa e Internet

«A Internet não é apenas mais um suporte: é o fim do jornalismo tal como foi vivido até hoje». Esta frase é retirada do livro La Prensa sin Gutenberg, escrito por Bruno Patiño, director do Le Monde Interactif, e Jean-François Fogel, ligado ao LeMonde.fr, ambos vindos do mundo da imprensa "tradicional".

Sobre a obra agora publicada, Francis Pisani faz hoje, no CiberP@is, um resumo dos pontos mais importantes. E, pelo que se lê, temos aqui mais um livro incontornável.

22.12.05

Autoridade sobre os media

Eis uma boa, e relevante, notícia: «O sector dos media vai estar debaixo de olho da Autoridade da Concorrência (AdC) durante o primeiro trimestre do próximo ano, afirmou ao DE Abel Mateus, presidente do organismo regulador da concorrência.» (Diário Económico)

O sector dos media é demasiadamente importante para a sociedade para que seja deixado aos seus livres arbítrios, quase sempre (e cada vez mais) marcados por um cunho economicista voraz de vistas curtas.

O país é pequeno e os principais órgãos de comunicação estão concentrados em muito poucas mãos. Isso pode ser bom para empresas e accionistas. É quase sempre mau para a democracia e o pluralismo de que ela se deve alimentar.

Esperemos, pois, que a Autoridade da Concorrência se comporte à altura. E que não ceda a pressões.


A ler:
Governo quer legislação anti-concentração dos media
Concentração dos Media e Pluralismo

15.12.05

Cinema e jornalismo à grande e à francesa

Para quem gosta muito de jornalismo e outro tanto de cinema, esta é uma publicação a colocar desde já no topo das prioridades de Natal: Print the Legend - Cinéma et Journalisme, editada pelos Cahiers du Cinéma.

Trata-se de uma obra colectiva, com diversos textos sobre muitos dos maiores filmes em que o jornalismo é o tema central. Estão lá os grandes clássicos, da envergadura de um Citizen Kane ou de um Blow Up, mas também filmes mais recentes, como O Informador, Shattered Glass - Verdade ou Mentira ou Live from Bagdad (ainda não disponível em Portugal).

Nas páginas finais, encontramos uma lista com mais de 300 obras, abrangendo os séculos XIX, XX e XXI! Imperdível.

12.12.05

A vida depois da televisão

A notícia da última página do Público de hoje, que dá conta da intenção da Intel de usar uma nova tecnologia que permite fundir a televisão com o computador, trouxe à memória as "velhas" profecias de George Gilder sobre o fim da televisão e sua substituição pelo "teleputador" (teleputer).

Lembro-me de um documentário televisivo em que Gilder, um veterano das novas tecnologias, aparecia a carregar o seu televisor num carro de mão para depositá-lo no lixo. «Cá em casa já não há espaço para a TV», explicava o autor do provocativo Life After Television, obra em que se lê frases como: «a televisão é uma ferramenta de tiranos».

Quem acompanha o andamento das novas tecnologias há muito que perdeu as dúvidas de que o casamento total entre a TV e o computador era (é) apenas uma questão de tempo. As próprias designações "televisão" e "computador" poderão ser palavras anacrónicas para as gerações que se seguem.

Esta é, sem dúvida, uma boa ocasião para ler, ou reler, Life After Television.


Memória
A televisão na idade da reforma

1.12.05

Is this healthy?

Numa notícia, da página de Media do DN de hoje, com pouco mais de meia dúzia de parágrafos, lê-se: holding, gadgets, target, core business, share, sitcoms.

A Impresa, a big portuguese media corporation, vai lançar a revista Stuff, dedicada aos gadgets. Well, nada de new. O DN acaba de lançar a Life. A kind of magazine for the rich and beatiful people, you see?

24.11.05

E a seguir?

«O presidente norte-americano, George W. Bush, planeou bombardear a Al-Jazeera, estação de televisão árabe no seu aliado Qatar, revelou um memorando altamente secreto, citado pelo Daily Mirror.» (DN)

O New York Times que se cuide...

22.11.05

Jornalistas online em Portugal

Cumprida a primeira década de história do jornalismo na Internet em Portugal, os jornalistas online portugueses são contituídos maioritariamente por profissionais entre os 26 e os 35 anos de idade, em início de carreira, sendo que as mulheres estão em maioria. Poucos receberam formação específica no ensino superior. Utilizam pouco a narrativa hipermédia.

Estas são algumas das conclusões que resultaram de um inquérito feito a 79 jornalistas (com 54 respondentes) por João Canavilhas, da Universidade da Beira Interior. E o panorama geral não parece lá muito animador.

Canavilhas põe o dedo na ferida quando, ao procurar explicar, por exemplo, «a integração hipermédia quase inexistente, fraca utilização do hipertexto e aposta nas notícias de última hora, num modelo muito semelhante ao das agências de notícias», refere que «por detrás desta realidade parece estar a dificuldade em encontrar um modelo de negócio que viabilize as publicações online.» Ora, é precisamente aqui que o negócio empanca, impedindo a ascenção do ciberjornalismo português à "primeira divisão".

Esperemos, pois, por melhores dias.


A ler:
Os jornalistas online em Portugal

14.11.05

Cidadão. Jornalista?

Não se "faz" um jornalista como quem faz mousse de chocolate instantânea. Daí o equívoco maior da expressão "cidadão-jornalista".

12.11.05

Net e democracia

«Por enquanto, em vez de reforçar a democracia através do estímulo ao conhecimento e à participação dos cidadãos, o uso da Internet tende a aprofundar a crise da legitimidade política ao fornecer uma ampla plataforma para a política do escândalo.»

Manuel Castells

9.11.05

A 'TSF' do Prisa

O grupo espanhol de media Prisa, o tal bicho papão 'socialista' que muito bom patriota teme, tenciona arrancar com uma rádio informativa para concorrer com a TSF.

A ideia está, aparentemente, a ser bem recebida, até por responsáveis de rádios que irão sofrer a concorrência directa da nova estação, como se pode ler no DN.

A Prisa lidera o segmento da rádio em Espanha e, fora do país, não costuma brincar em serviço. Donde, é de esperar qualidade e profissionalismo no jornalismo da nova rádio, que terá porventura a virtude acrescida de levar a uma sacudidela de pó instalada nalgumas ondas hertzianas nacionais.

E, tanto quanto se ficou a saber, os noticiários não serão lidos em castelhano...

Internet e mercado

«Apesar de as novas tecnologias terem grande potencial para a comunicação democrática, há poucas razões para esperar que a Internet sirva fins democráticos uma vez entregue ao mercado.»

Edward Herman

7.11.05

Canais do Porto

Após o trauma NTV, o Porto parece disposto a sair do buraco negro audiovisual em que se encontra metido desde então. Dois projectos perfilam-se no horizonte: a Invicta TV, a emitir na TVTel, e o Porto Canal, na TV Cabo.

A cidade e a área metropolitana respectiva precisam, com toda a urgência, destes projectos, de modo a contrabalançar a perversa macrocefalia televisiva do país. A ausência de um canal de televisão regional é um claro sinal de subdesenvolvimento social e económico da região, que ainda recentemente perdeu um jornal centenário, O Comércio do Porto. Com o falhanço da NTV, o Porto passou a si próprio um atestado de incompetência e menoridade. Urge, portanto, recuperar.

Acresce que estes projectos podem potenciar actividades económicas paralelas ou complementares e, simultaneamente, dinamizar o mercado de emprego na área da comunicação e do jornalismo. Mas, para já, falta informação concreta quanto aos conteúdos, quer programativos, quer informativos. Isto é, falta os canais dizerem ao que vêm.


A ler:
TV Cabo adora o Porto
Invicta TV emite nos "próximos dias"

2.11.05

"Cacha" na Visão Online

É sempre gratificante ver uma "cacha" emergir de um medium na Web. Desta vez, a Visão Online toma a dianteira na actualidade noticiosa com a revelação de que um destacado dirigente socialista terá recebido a "visita" em casa de inspectores da Polícia Judiciária.

A notícia é apresentada online apenas com o essencial. A revista remete os desenvolvimentos para a edição em papel, a publicar amanhã.

Neste contexto, ouro sobre azul seria, no entanto, o exclusivo ter sido conseguido por um ciberjornalista da Visão Online.

31.10.05

PRISMA.COM: uma nova revista académica

Acaba de nascer a revista académica PRISMA.COM. Trata-se de uma publicação online dedicada à investigação na intersecção da comunicação, informação, tecnologia e artes. É propriedade da unidade de investigação CETAC.COM (Centro de Estudos em Tecnologias, Artes e Ciências da Comunicação), da Universidade do Porto.Conforme se pode ler na 'Política Editorial' da nova revista, aqui são publicados artigos de natureza teórica, ensaística ou de comentário e reflexão, bem como trabalhos monográficos nos domínios das ciências, artes e tecnologias da comunicação e da informação.

Trabalhos de natureza empírica, recensões críticas da literatura própria destes domínios, noticiário sobre actividades em curso ou a desenvolver, bem como entrevistas e outros materiais de carácter informativo e de divulgação nestas áreas do conhecimento, têm também o seu espaço.

30.10.05

Proulx e a comunicação

O canadiano Serge Proulx, sociólogo e professor de comunicação, esteve esta semana em Lisboa para falar de cibernética. Em entrevistas ao DN (Segunda-feira passada) e ao Público (hoje), o co-autor de A Explosão da Comunicação deixou alguns tópicos interessantes. Por exemplo:

«Na nossa sociedade há uma sobrecarga de informação e isso não se traduz automaticamente num crescimento da comunicação». Proulx defende uma refudação da educação para enfrentar a overdose informacional. «Estamos numa sociedade onde a comunicação é uma preocupação permanente, mas isso não quer dizer que comunicamos mais, no sentido da troca simbólica».

«O problema da comunicação é omnipresente. Tudo, hoje em dia, é comunicação, do comércio à política. Quanto ao desenvolvimento de uma ciência da comunicação, ainda não atingimos a maturidade. Estamos no balbuciar de uma ciência da comunicação». «Alguém conseguir ser eleito é cada vez mais uma questão de comunicação».

«Até 1995, o primeiro grande período da Internet, houve a expansão de uma cultura da liberdade. A partir daí, entramos na fase do mercado. Ainda estamos perante uma tensão entre dois pólos.»


A ler:
Informação a mais obriga à refundação da educação

28.10.05

Perda de Público

O Público está, de novo, a passar um mau bocado. O prejuízo acumulado das perdas nos primeiros nove meses do corrente ano supera já os 3 milhões de euros.

Problemas do momento: a "mina" que são (foram?) os produtos associados ao jornal (livros, cd, dvd) saturou os leitores-consumidores e as vendas de publicidade caíram.

A Sonaecom escreve entretanto em comunicado que «o Público tem vindo a centrar a sua estratégia no alargamento do seu mercado alvo, de forma a direccionar-se a outros leitores».

Talvez seja esta estratégia a explicar a sensação que temos de que o futebol tem hoje mais visibilidade na primeira página enquanto as páginas da secção de Cultura parecem um pouco mais, por assim dizer, comprimidas.


A ler:
Público com prejuízos de 1,5 milhões de euros

Previsões de Gates

Bill Gates, o patrão da Microsoft, exagera, como exagerou em previsões anteriores na matéria, quando diz: «Em cinco anos, cerca de 40% a 50% dos leitores vai consultar os jornais na Internet».

Tem razão quando refere que «deve ser a imprensa escrita a dar o salto para o online, cuidando da qualidade das suas edições na Internet».

Acerta no óbvio ao sublinhar que «o formato electrónico está mais adaptado para jornais, enciclopédias, manuais escolares e documentários, do que propriamente para livros, como os romances».


A ler:
Bill Gates prevê que 50% dos leitores recorra aos jornais online

27.10.05

Global Notícias "arruma a casa"

Ali para os lados da Global Notícias, o tempo está mau. Segundo o Público, a Grande Reportagem fecha em Dezembro, mas o seu director, Joaquim Vieira, já está de malas aviadas. Porquê tanta pressa? O DNA, suplemento cultural do DN (sextas-feiras), está a ser reavaliado. Um dos cenários é também o fecho.

Os novos patrões da Global Notícias parecem estar determinados a "arrumar a casa". Começaram, lestos, por despachar a direcção do DN, com Miguel Coutinho à cabeça. Veremos os despachos que se seguem. Será uma boa oportunidade para aquilatar para que lado pende a balança de Oliveira: respeito pela "cultura" jornalística ou mera gestão de mercearia?

24.10.05

Expresso multimédia

O Expresso Online começa a dar pequenos passos, pequenos mas positivos, em direcção ao multimédia.

Dois exemplos recentes: um pequeno vídeo com a apresentação da candidatura presidencial de Cavaco Silva, com edição multimédia de Luiz Carvalho e webdesign de Inês Bravo, e uma entrevista com David Fonseca, em texto, pergunta-resposta, com a opção de ouvir excertos de áudio com músicas do cantor.

Se se tratar de um início de tendência a aprofundar e expandir, é muito bem-vindo.

20.10.05

Elementos do Jornalismo

O livro Os Elementos do Jornalismo é apresentado no 4º Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, que hoje teve início, na Universidade de Aveiro.

Pelo tema proposto, pelos autores, e pelos responsáveis pela colecção em causa, é de crer que se trate de mais um livro incontornável nesta área. No blogue Jornalismo e Comunicação, Manuel Pinto faz uma breve apresentação da obra.

18.10.05

De leituras

«A Internet e as suas aplicações, como a World Wide Web, não gozaram da liberdade de outros, mais antigos, media. A rádio e a televisão foram ambos revolucionários no seu tempo. Mas foi-lhes permitido experimentar as suas dores de crescimento longe do brilho da intensa expectativa a uma escala global. Também não tiveram de lidar com esse monstro voraz, a maquinaria de marketing do capitalismo de finais do século XX.»

Mike Ward, em Journalism Online

14.10.05

Jornais online conquistam leitores

São pequenos sinais, mas nem por isso devem ser desvalorizados. Segundo a empresa de audimetria Marktest, em Setembro, 759 mil portugueses acederam a sites de jornais, revistas ou de notícias portugueses, um número que representa mais de metade (56.3%) dos utilizadores de Internet no país. O total de páginas visitadas foi 19.3% superior face a Agosto e 2,5% superior face a Setembro do ano passado.

Os portugueses estão, pois, a ler cada vez mais notícias na Net, o que só deve encorajar as empresas jornalísticas a estarem atentas de modo a tirarem proveito de uma tendência que se adivinha crescente.

Quanto mais audiência os jornais online tiverem, melhores condições terão de captar publicidade, que, por sua vez, poderá financiar a melhoria da qualidade dos nossos depauperados media digitais. Por enquanto, o caminho em direcção à excelência é muito estreito e bastante difícil.

12.10.05

Expresso renova

O Expresso estava, de facto, a precisar de um refrescamento na sua direcção. José António Saraiva é, como acontece quase sempre nestes casos, em que um título deve muitos dos seus anos de expansão a um director, arrumado simpaticamente numa prateleira dourada.

Com o tempo, ver-se-á se Henrique Monteiro foi uma boa escolha de Balsemão para dirigir o semanário ou se teria sido preferível ir buscar alguém "de fora", com maior margem de manobra e frescura para sacudir a poeira instalada.

Entretanto, a notícia do eventual aparecimento de um novo semanário, do Grupo Cofina, para concorrer com o Expresso, é motivo de regozijo. O panorama do jornalismo escrito e o mercado de trabalho respectivo estão a precisar de novos projectos como de pão para a boca...


A ler:
José António Saraiva deixa o 'Expresso'

Jornais online espanhóis em grande

Se dúvidas houvesse de que os jornais online espanhóis estão já a anos-luz dos seus congéneres lusitanos, nomeadamente no que à narrativa multimédia diz respeito, bastaria espreitar alguns trabalhos agora premiados pela Society for News Design.

À cabeça, uma produção multimédia do Elmundo.es sobre a sonda Deep Impact. Só este jornal arrecadou quatro prémios. EL PAIS.es obteve dois. Muito interessante também é o trabalho premiado do Lavanguardia.es sobre o genial pintor Salvador Dalí, denominado Desmontando a Dalí.

Ramon Salaverría tem, no seu blogue, a lista completa dos premiados espanhóis. Para navegar com atenção e, se necessário, como diria a outra, tirar daí as devidas ilações.

10.10.05

Veneza: diques animados no ELPAIS.es

Vai ser construída em Veneza uma das obras mais ambiciosas de engenharia da Europa. Trata-se de um sistema de diques móveis que permitirá fechar a lagoa e evitar as inundações que ameaçam a mais bela cidade do mundo.

O ELPAIS.es mostra-nos, através de uma interessante infografia digital, como vão funcionar os diques.

5.10.05

Um moblog solar

O Público.pt lá deu mais um passinho para se distanciar dos seus principais concorrentes na Web. A ideia de criar um moblog para o eclipse solar parece ter resultado em cheio: os leitores contribuíram com quase 200 fotos, algumas enviadas a partir de telemóveis.

Tem razão António Granado quando escreve que «este tipo de iniciativas tem um enorme potencial ainda não explorado pelos jornais portugueses». Ou não fossem os melhores jornais online feitos em estreita interactividade com os seus leitores.

3.10.05

Uma bela finalista

Um dos trabalhos finalistas dos Online Journalism Awards (OJA) de 2005 foi feito por uma equipa do St. Petersburg Times. Trata-se de uma estória sobre uma velha tradição indiana: os casamentos combinados. Agora, o que acontece quando uma moderna estudante norte-americana de ascendência indiana aceita este ritual antigo?

Este foi o ponto de partida para uma reportagem que acabou por constar da lista de finalistas dos OJA, na categoria Outstanding Use of Multiple Media.

É um prazer 'folhear' A husband for Vibha. Os slideshows são acompanhados pela voz da narradora. As fotos são deslumbrantes, com todas as cores fortes da Índia. O texto em si é interessantíssimo. O design das páginas, embora simples, revela-se atraente.

Pode-se argumentar que falta, por exemplo, material vídeo, infografia digital, exploração do hipertexto, etc.. É verdade. Mas nem por isso a simplicidade desta Special Report sai diminuida. Antes pelo contrário.

28.9.05

Autoridade em causa

Artur Portela bateu com a porta na Alta Autoridade para a Comunicação Social, «em protesto contra o que considera ser a pressão do Governo para a alteração da metodologia de análise sobre a renovação das licenças de televisão.» (Público).

Portela explica que «o acto de um membro do Governo (Augusto Santos Silva) que convida o presidente de um órgão regulador - que é independente - para lhe dizer que as coisas devem ser feitas de certa forma e num determinado prazo, tem uma carga política».

A saída de Portela, numa altura em que a AACS está para acabar, vem adensar as suspeitas de intromissão do governo (sempre negada pelo mesmo) no processo de renovação das licenças dos canais privados, de modo a facilitar o negócio da venda da TVI ao grupo espanhol Prisa. A confirmarem-se, são gravíssimas.

Ora, este avolumar de suspeição tem, a prazo, pelo menos uma consequência: envenenar irremediavelmente o nascimento da Entidade Reguladora da Comunicação Social.

22.9.05

Público.pt: dez anos

O Público assinala hoje o 10º aniversário da sua edição electrónica. Está, pois, de parabéns.

Ao longo dos anos, e apesar das muitas dificuldades financeiras que o projecto conheceu, o Público.pt lá se foi mantendo, com avanços e recuos, mas sempre com um mínimo de dignidade e coerência. Dos seus concorrentes mais directos na Web, o DN e o JN, não se pode dizer o mesmo.

Em 1999, o Público.pt deu um salto importante, ao introduzir o serviço Última Hora, dando corpo a uma das principais exigências do ciberjornalismo: a imetiatez. Longe ainda dos padrões de diários como El País (para não irmos mais longe), ainda assim tem cumprido.

Outra marca distintiva, e muito positiva, foi a decisão de nomear um director próprio para o Público.pt., José Vítor Malheiros, que esteve também na origem do projecto.

O Público.pt tem, por isso, potencial para crescer e melhorar, pois há muito a fazer, em particular nos capítulos da interactividade, da hipertextualidade, da multimedialidade e mesmo da navegabilidade. O texto tem de ser equilibrado com material multimédia, de modo a aproximar este jornal de um verdadeiro medium noticioso da Web.

Ainda assim, dez anos passados, o Público.pt mantém-se um pequeno oásis no panorama deprimente e amador do ciberjornalismo português.

20.9.05

maisautárquicas.com: uma boa ideia

O grupo Impresa teve uma boa ideia ao lançar o sítio maisautárquicas.com., uma plataforma aglutinadora de conteúdos da SIC, do Expresso e da Visão para a cobertura das eleições autárquicas.

O sítio incorpora algumas das mais recentes ferramentas e modalidades ao dispor do ciberjornalismo, como o RSS, os blogues ou espaços para os cidadãos "fazerem" jornalismo pelas suas próprias mãos, e disponibiliza algum material multimédia, o grande calcanhar de Aquiles dos jornais digitais portugueses. Há galerias fotográficas do Expresso, vídeos da SIC e alguma infografia digital rudimentar. O texto, no entanto, é predominante.

Onde o sítio falha mesmo é no "embrulho": o grafismo é algo morno, não há uma articulação integrada dos diferentes elementos multimédia e a exploração das potencialidades do hipertexto deixa a desejar.

Não obstante, trata-se de uma iniciativa louvável, ainda para mais quando é tida num contexto de grande marasmo do ciberjornalismo português. Acresce que lança algumas pistas interessantes (noutros países há muito concretizadas) sobre o funcionamento multitextual dos grupos de comunicação.

17.9.05

Quem tem medo da Prisa?

Pôr a TVI nas mãos da Igreja foi um enorme erro patrocinado por um governo de direita, ao tempo de Cavaco. A gestão beata do canal revelou-se penosa. A tabloidização comercial do canal pela mão de Moniz aumentou substancialmente os níveis de poluição televisiva e degradação jornalística. Depois disto tudo, a pobre direita portuguesa ainda tem medo dos espanhóis?

13.9.05

De leituras: a Internet e os homens arcaicos

Um dos traços mais preocupantes no que à evolução das novas tecnologias diz respeito é a forma acrítica com que elas são incorporadas pelas pessoas no seu dia-a-dia. Se é novo, se é prático, se é bem, se é barato... é bom. Use-se e abuse-se. O telemóvel é um bom e recente exemplo de como se pode passar, num ápice, da utilidade à febrilidade.

O turbilhão de novidades e gadgets associados ao emergir das tecnologias não deixa, em geral, grande espaço para reflexões críticas. Neil Postman demonstra-o, de forma cabal, no seu brilhante Tecnopolia. Torna-se, portanto, importante alertar para a necessidade de estarmos sempre atentos ao que dizem os "velhos do restelo".

Alain Finkielkraut e Paul Soriano são dois nomes que, para muitos, caberão naquela categoria. Ao primeiro, escritor e professor de filosofia em França, costumam os adversários chamar neo-reaccionário. O segundo dirige um instituto de prospectiva, virado para as questões da sociedade em rede.

As suas opiniões sobre a Internet estão reunidas no livro Internet, o Êxtase Inquietante, publicado por cá em 2002. Para tecnófilos militantes, esta obra será um amontoado de provocações. Para quem acreditar que da diversidade de opiniões nasce o interesse, é de ler.

Finkielkraut olha de lado para a revolução digital. E diz continuar desligado das "forças vivas", «mantendo as novas máquinas à distância, barricando-me de certa maneira no que ficou para trás, agarro-me à minha caneta, à minha papelada, e aos meus amigos queridos, os livros». Abomina o ecrã. Zurze quem acredita que a Internet na sala de aula "produz" melhores alunos. Teme o fim da privacidade e da intimidade, a vigilância omnipresente. Um resistente, portanto, ao «democrático total da técnica desenfreada». Como resistir a provocações deste calibre?

E explana assim: «A Internet é o perigo que corre a liberdade quando se pode conservar o traço seja do que for, mas é também o perigo que fazemos correr aos outros e a nós próprios quando gozamos de uma liberdade sem limites.»

E pergunta ainda o seguinte, de uma forma pertinente e de grande fôlego: «Apresentam-nos a Internet como um magnífico instrumento de informação e de comunicação, mas para quê tanta informação, tanta comunicação? E o lugar para o resto - para tudo o que na nossa vida não depende nem da informação nem da comunicação? Que lugar fica para a contemplação? Que lugar para a admiração? Que lugar para a ruminação? Que lugar para a solidão?»

Quem não gostar destas inquietações existenciais de Finkielkraut pode sempre responder, em tom pragmático, com aquela frase de uma canção dos U2: «You miss to much these days if you stop to think».

Soriano, por seu lado, preocupa-se com a invasão das "próteses técnicas" no meio ambiente humano, colocando-nos sempre disponíves, sempre acessíveis na rede, cujo tempo é «um eterno presente que é uma presença permanente». A rede, funcionando em registo de interrupção frenética, «aniquila os grandes momentos que estruturam a vida dos homens arcaicos».

Leia-se, ainda: «As próteses técnicas com que nos equipamos febrilmente (a começar pelo telemóvel) assemelham-se sob este aspecto às pulseiras electrónicas dos presos no meio da cidade.»

Em dois pequenos textos, Finkielkraut e Soriano levantam questões e colocam problemas que dão para uma boa discussão sobre as novas tecnologias, quase sempre alvo de adoração, poucas vezes objecto de discussão. A sério.

8.9.05

O Google vai na conversa

Na edição de hoje do CiberPa@is, Antonio Espejo escreve sobre o Google Talk, um programa, ainda em versão beta, que permite aos utilizadores da Net falarem uns com os outros. Dantes, os chats eram à base de texto. Agora, pode ouvir-se, com qualidade, a voz dos amigos.

Espejo explica aos leitores como se instala, configura e faz chamadas no Google Talk, «dos mais austeros de aspecto e funcionamento, mas com uma eficácia de som que surpreende quando se fala pela primeira vez.»

Expresso Online mexe

Há novidades no Expresso Online e, diga-se de passagem, ainda bem. Um ex-repórter fotográfico, Luiz Carvalho, é o novo editor, que substitui Mário Carvalho, e já estará a preparar alterações no grafismo e nos conteúdos do sítio.

Luiz Carvalho fala em aumento da interactividade com os leitores (o que é sempre bom) e em disponibilização de material multimédia (o que é óptimo). Mas esperemos que o Expresso Online não se fique por aqui: o "porta-aviões" da Impresa tem arcaboiço para voos mais arrojados.

2.9.05

Katrina: recursos online

Os leitores da Online Journalism Review resolveram criar uma lista de hiperligações para sítios profissionais e de cidadãos que estão a cobrir o furacão Katrina. Sitios noticiosos, blogues, listagens de pessoas desaparecidas, sítios de assistência a desastres, como a Cruz Vermelha, wikis (Katrina Help Wiki), sítios com informação de contexto (bases de dados, mapas, etc.). Uma boa ideia no meio da enorme catástrofe.

Entretanto, na Wikipedia, a enciclopédia livre da Internet, já está disponível uma entrada sobre o Katrina. E trata-se de uma entrada fabulosa, com muita informação relevante compilada. Faz-se uma exploração exaustiva de hiperligações, fornecendo-se ao mesmo tempo enquadramentos, estatísticas, efeitos económicos, etc.. No topo da entrada, um aviso à navegação: «Este artigo documenta um acontecimento em desenvolvimento. A informação pode mudar rapidamente.» Ou não estivessemos nós na Internet.

No Travessias: Katrina: NYT demole Bush

23.8.05

De leituras: nova retórica

«Os jornalistas contam nos cibermeios o que ocorre na sociedade com uma nova retórica, a do hipertexto jornalístico, que actua como guia no discurso jornalístico. Apesar da readaptação que se está a produzir nos géneros, linguagens, programas executáveis... o certo é que o hipertexto já abriu as portas a outra forma de contar o que se passa na sociedade.»

Xosé López García, em Manual de Redacción Ciberperiodística.

4.8.05

DN: de mudança em mudança...

Se, um dia, alguém se lembrar de escrever um manual sobre como escangalhar um jornal em tempo recorde deve dar o exemplo do que tem sido feito com o Diário de Notícias nos últimos anos.

O diário lisboeta (no qual trabalhei durante quatro anos) já na última fase da direcção de Mário Bettencourt Resendes andava, de um ponto de vista de linha editorial, completamente à deriva, oscilando entre a procura do jornalismo de referência, tendo em vista a concorrência com o Público, e as mais desvairadas manchetes tablóide.

Depois, veio o monumental desastre chamado Fernando Lima, cuja nomeação, com o beneplácito das cúpulas da PT, arruinou muita da credibilidade do título. E as vendas vieram por aí abaixo. O equívoco Lima durou apenas um ano.

Seguiu-se, depois da "novela" trapalhona que envolveu Clara Ferreira Alves e a saída do colunista Vasco Pulido Valente, Miguel Coutinho, que tentou recentrar a imagem do jornal, apostando na referência, conseguindo assim suster, e mesmo inverter ligeiramente, a tendência de queda nas vendas. Sabe-se agora que o novo patrão, Joaquim Oliveira, já fez saber que não conta com a actual direcção, que assim dura apenas oito meses.

Ora, não há jornal que resista a tanta asneira feita de forma tão certeira e concentrada. Mudanças constantes de direcção, nomeações feitas com base em critérios de interesse político, erros clamorosos de "casting" (incluindo na administração do jornal) só podem dar no que tem dado.

Esperemos agora, para bem do jornalismo menos mau que se faz em Portugal, que não venha por aí uma nova direcção saída da chuteira que estiver mais à mão de Oliveira.


A ler:
Oliveira substitui direcção do “DN” logo que o negócio esteja fechado

31.7.05

Asfixia mediática

Num país que mal lê jornais e em que estes são cada vez mais anódinos, superficiais, indistintos, domesticados, centralizados e empresarializados, a suspensão (belo eufemismo) de A Capital e de O Comércio do Porto é uma péssima notícia. Pior ainda para o Porto, cidade que tem vindo, paulatinamente, a transformar-se num deserto mediático e jornalístico.

É absolutamente escandaloso que o Porto não tenha estaleca sequer para segurar um canal próprio de televisão. A NTV foi o que se viu. Na rádio, anos antes, foi a vez de a Rádio Nova, que chegou a ser um farol de qualidade, ser transformada em mais uma juke box inconsequente, com meninas de voz melada a gerir play lists...

Na imprensa, o próprio Jornal de Notícias, o porta-aviões do Norte, já foi mais da Invicta do que é hoje. O Primeiro de Janeiro pouco se vê. As delegações das revistas e dos jornais de Lisboa, ou são simbólicas, ou foram alvo de desinvestimento, sobretudo editorial, nos últimos anos (Correio da Manhã e Diário de Notícias, por exemplo). O 24 Horas é para esquecer. E O Comércio do Porto acaba mal, às mãos de um grupo espanhol que se está nas tintas para 150 anos de história.

Resultado: a diversidade e a pluralidade (de notícias, de debates, de protagonistas, de ideias) vêem-se reduzidas e o mercado de emprego, bem como o de estágios, torna-se cada vez mais afunilado. O espaço público da região fica ainda mais pobre.

De um ponto de vista mediático, o Porto é hoje uma paróquia.


A ler:
O cemitério, de Vicente Jorge Silva
Sentença de Morte, de Manuel Pinto
Blogue OComerciodoPorto

29.7.05

Teleinternet

A entrada da televisão na Internet acabará por transformá-la. A teleinternet não será uma televisão de massas, mas antes a la carte. Permitirá complementar a oferta, necessariamente massificada, dos canais tradicionais.

Estas são asserções que servem de ponto de partida para um pequeno artigo que Francis Pisani escreveu no CiberP@is e que merece uma leitura atenta.

19.7.05

A 'videoblogosfera'

A onda dos videoblogues começa a ganhar dimensão e parece ter um potencial altamente promissor. O conceito do vlogue é muito simples: em vez de posts de texto, o videobloguista exibe excertos de vídeo.

Na revista Wired (dica do Ponto Media), pode ler-se um trabalho de Katie Dean sobre a emergência desta web trend, em que já se experimenta um pouco de tudo: o vereador de Boston que, no seu vlogue, responde a perguntas dos eleitores; um fulano que mostra como estrelar ovos num passeio escaldante; outro que conta histórias da sua terra natal; um outro que mostra o seu "show" noticioso diário; e há ainda o Clint Sharp, que exibe um programa semanal sobre tecnologia.

Na videoblogosfera (chamemos-lhe provisoriamente assim), tal como na blogosfera, vê-se muita criação individual que jamais passaria nos media audiovisuais tradicionais. Os vlogues, diz um analista citado na artigo da Wired, transformar-se-ão num complemento ao broadcasting tradicional.

Tendo em conta a experiência criativa e proveitosa dos blogues, não será difícil antever a explosão imaginativa que se adivinha à medida que a videoblogosfera se for expandindo e diversificando. O aperfeiçoamento do hardware e do software necessários aos vlogues tratarão, certamente, de facilitar a afirmação de novos talentos nesta área. Tal como aconteceu com os diários pessoais de papel, os vídeos caseiros passarão a ter um outro alcance, uma outra formatação, com a passagem para a Web.

A narrativa audiovisual, de muitas maneira balizada, por exemplo, nos canais de TV (que são media simultaneamente controlados e controláveis), ver-se-á liberta de quase todas as grilhetas. Os posts de vídeo serão o que os vloguistas quiserem, da forma que bem entenderem. Para o bem e para o mal, como nos ensina a história da Internet.

15.7.05

Vídeo no papel

O conhecido tablóide The Sun diz ser o primeiro diário britânico a fornecer blocos noticiosos em vídeo, que são produzidos especificamente para o Sun Online pela Press Association.

Cada bloco dura um minuto e meio e é actualizado quatro vezes por dia, embora, em casos especiais, a actualização possa ser feita mais frequentemente, como escreve Jemina Kiss, no journalism.co.uk.

Ora aqui está um exemplo a seguir por muitos outros jornais por esse mundo fora, com os de referência a terem aqui obrigações especiais. Um jornal online não pode, não deve, ser um mero repositório de conteúdos produzidos para o papel. O seu espaço de publicação é a Web, um meio multimédia, ou melhor, hipermédia, por natureza e excelência. Esta é uma certeza que, apesar de "histórica", permanece ainda ignorada por uma parte substancial do ciberjornalismo mundial.

É por isso que muitos sites noticiosos ainda são uma grande seca.

11.7.05

No olho do furacão

A propósito do furacão Dennis, ELPAIS.es elaborou um pequeno infográfico animado que nos coloca "En el ojo del huracán". Simples. Fantástico.

7.7.05

Londres e os media online portugueses

As explosões em Londres deram-se na hora de ponta matinal, por volta das 9. São quase 2 da tarde, ou seja, quase cinco horas depois das deflagrações. Vejamos como estão a reagir a este acontecimento muito especial alguns dos principais media noticiosos portugueses online:

Público.pt: dá informação actualizada, estilo agência noticiosa. Poucas imagens. Nenhum material multimédia é fornecido (ex., gráficos, áudio ou vídeo). Não são disponibilizadas hiperligações de contexto sobre o acontecimento. Algumas notícias abrem espaço a comentários dos leitores.

dn.pt: para o DN, não se passa nada. Abre-se o site, clica-se em "Última hora" e... nada. Londres bem podia estar a arder...

JN: nas "Últimas", tem três notícias curtas sobre o assunto, a primeira das quais colocada às... 12.12h. E nada mais.

Correio da Manhã: acordou às 10.59 para as explosões. Tem uma notícia única com comentários dos leitores no final. E uma fotozita para a amostra.

Expresso: Aqui encontramos de diferente, pelo menos, um infográfico com as estações de metro atingidas e uma galeria fotográfica. Vá lá...

Diário Digital: tem um "Especial Urgente", no que parece ser uma adaptação algo tosca da expressão "breaking news". Vários títulos dão acesso a notícias de agência. Não há fotos nem comentários de leitores. Para diário exclusivamente online, está mau. Muito mau.

Portugal Diário: Também não tem nada de especial. Texto, muito texto. Uma galeria de fotografias. Comentários de leitores. Paginas graficamente "secas". Sabe a pouco. A muito pouco.

TSF: Pela primeira vez, e naturalmente, som na Web. Da rádio, está claro. Quanto ao mais, estilo agência noticiosa.

SIC Online: Um infográfico! E depois muita Lusa, Reuters e France Press. Nem uns 15 segundos de vídeo que podia ser aproveitado dos canais de televisão do grupo. Fraquíssimo.

ELPAIS.es: é espanhol, eu sei, mas serve aqui apenas como mero contraponto cruel: tem vídeo, gráficos, galeria de fotos, cronologias, áudio, enfim, sem ser nada de extraordinário, deixa os nosso media online a anos-luz em termos de resposta na Web a grandes acontecimentos.

É evidente que há várias explicações concretas - que vão do desinvestimento por parte das empresas jornalísticas até à falta de investimento por parte de anunciantes - para a resposta medíocre dos media portugueses online. Quando não há meios, nem dinheiro, nem vontade, também não há milagres. Mas nem por isso se torna menos confrangedor verificar, na prática, o estado brutal de atraso destes media. É mais uma área para ajudar a colocar o país na cauda da Europa em quase tudo. Pessimismo high tech?

1.7.05

Unilateralismo na rede

Ora aqui está mais um belo exemplo do "multilateralismo" da actual administração norte-americana: as petições feitas pela União Europeia e pela América Latina para que o controlo das infra-estruturas básicas da Internet passe para as mãos de um organismo internacional recebeu uma resposta negativa por parte dos EUA, que actualmente controlam os servidores de raiz da rede mundial.

Segundo El Pais, a administração Bush anunciou que não entrega esta competência nem prescinde da tutela que exerce sobre o ICANN, o órgão de governo da Internet.

27.6.05

Negócio mal cheiroso

O empresário Joaquim Oliveira está preocupado com o negócio que fez com a PT para a compra da Lusomundo. Terá dito, segundo o Expresso, que comprou um porco e arrisca-se a ficar com um leitão.

Ora, para bem do mundo da comunicação social e do jornalismo em Portugal, o ideal era mesmo que Oliveira não ficasse sequer com um leitãozinho raquítico da Bairrada.

25.6.05

De leituras: guardiães ameaçados

«A venerável profissão do jornalismo encontra-se num raro momento da história onde, pela primeira vez, a sua hegemonia como gatekeeper das notícias é ameaçada por, não apenas novas tecnologias e competidores, mas, potencialmente, pela audiência que serve. Armada com ferramentas de publicação fáceis de usar, conexões em permanência e dispositivos móveis cada vez mais poderosos, a audiência online tem os meios para se tornar uma activa participante na criação e disseminação de notícias e informação.»

Shayne Bowman e Chris Willis, 'We Media: How Audiences are Chaping the Future of News and Information'

13.6.05

Blogues: jornalismo pós-moderno?

Vários autores defendem hoje que os blogues são uma nova forma de jornalismo que enfatiza a personalização, a participação da audiência na criação de conteúdo e formas de estórias que são fragmentadas e interdependentes com sites.

Para Melissa Wall, da California State University-Northridge, «estas características sugerem um afastamento da abordagem moderna tradicional do jornalismo em direcção a uma nova forma de jornalismo impregnada de sensibilidades pós-modernas.»

Num artigo escrito para a revista Journalism, (Volume 6, Número 2, Maio de 2005), Wall relata as conclusões de um estudo sobre blogues orientados para a notícia, durante a invasão do Iraque, na Primavera de 2003. A autora conclui que estes blogues representam um novo género de jornalismo, com um tipo de notícias mais conversacional, dialógico e descentralizado.

Wall sugere que os blogues podem mais abrangentemente ser entendidos como ‘jornalismo pós-moderno’, argumentando que, se o jornalismo tradicional do século XX é visto como um produto da modernidade, então as mudanças sociais dos últimos anos que levaram observadores a identificar um período de hipermodernidade ou pós-modernidade precisam de ser consideradas quando se fala do futuro do jornalismo.

8.6.05

Dez anos de ciberjornalismo: balanço

Daniela Bertocchi e Sérgio Denicoli escreveram uma interessante reportagem para o Observatório de Imprensa (Brasil) sobre as jornadas "Dez Anos de Jornalismo Digital em Portugal", que tiveram lugar, na semana passada, na Universidade do Minho. Uma iniciativa a todos os títulos louvável e oportuna, num país que quase não discute este tipo de temas.

O texto A Internet e o declínio dos jornais e uma entrevista a Ramon Salaverría, um dos principais oradores das jornadas, resumem muitos dos tópicos abordados em Braga.

Também no portal do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto pode ler-se um resumo das jornadas feito por Letícia Amorim ("Uma década de jornalismo digital é muito pouco") e uma entrevista da mesma aluna a Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas.

30.5.05

Ciberjornalismo: peças de baú

Agora que o ciberjornalismo ou jornalismo digital português se prepara para assinalar a sua primeira década, lembrei-me de dar uma espreitadela no baú de alguns textos que escrevi, então no Jornal de Notícias, nesses tempos idos de pioneirismo, experimentação, excitação e, aqui e ali, de desilusão. Quando tudo era novo e incerto e a curiosidade enorme...

Os jornais do futuro na rota de Barcelona (1995)

Os herdeiros do videotexto (1995)

Jornalistas portugueses apostam na Net (1996)

TSF: a rádio em directo na rede (1996)

Cornetas perdidas no meio da orquestra? (1996)

Os novos jornalistas (1996)

Jornais digitais em contagem crescente (1996)

El País Digital à maneira de uma agência de notícias (1996)

Mindy McAdams: Jornais electrónicos devem ser rápidos e breves (1996)


Na minha "velhinha" homepage, há ainda mais passado sobre esta história...

27.5.05

Deus no ar

A parte lúcida do povo da América tem mais uma razão para ficar preocupada com o rumo da nação: a ascenção dos media dos cristãos evangélicos (corrente em que Bush se filia), onde a fé se mistura com as notícias.

A Columbia Journalism Review resume assim o fenómeno: «Deus está no ar». Por satélite, por cabo, pelo éter, Deus chega a milhões de lares dos EUA pela mão dos evangélicos, que estão a construir um vasto universo mediático, incluindo música, filmes, sitcoms, reality TV e programas noticiosos sobre assuntos públicos, «uma potente mistura de Deus, notícias e política de direita». Tudo isto, frisa a CJR, regado com uma visão conservadora do mundo.

25.5.05

Jornalismo em debate

Rogério Santos, no blogue Indústrias Culturais, escreve hoje algumas (e oportunas) notas resultantes da sua participação nas jornadas de reflexão sobre o ensino e a investigação do jornalismo e das ciências da comunicação em Portugal que decorreram, ontem, nas instalações da licenciatura em jornalismo e ciências da comunicação da Universidade do Porto.

20.5.05

Fora de prazo

Um aluno, atento, chama a atenção para o facto de o inquérito online do DN ainda estar a perguntar aos leitores, sim ou não: «Bento XVI é o sucessor ideal de João Paulo II?»

15.5.05

Dez anos de jornalismo na Web

É oportuníssima a iniciativa do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho: as jornadas sobre "Dez anos de Jornalismo Digital em Portugal: O Estado da Arte e Cenários Futuros", a decorrer nos próximos dias 2 e 3.

Quase uma década depois de o primeiro diário generalista português ter começado a publicar regularmente notícias na sua versão online, é uma excelente altura para se fazer o balanço. Quanto mais não seja para se procurar perceber melhor os porquês de estar quase tudo por fazer no que ao ciberjornalismo nacional diz respeito...

7.5.05

Imprensa: a crise dos quatrocentos

Os bons velhos jornais de papel estão a atravessar aquilo a que poderíamos chamar a crise dos quatrocentos anos. Em países como os Estados Unidos, a queda nas vendas tem sido constante nas duas últimas décadas. Em vários outros países verificam-se tendências semelhantes. Portugal é uma excepção: tem índices de leitura extraordinariamente baixos e as oscilações nas vendas não têm sido muito significativas.

O que chama a particular atenção na notícia "Jornais caem nos EUA", que o Expresso publica hoje, é a reacção do magnata dos media Rupert Murdoch. Ele diz que os jornais têm de se adaptar às novas realidades, ao mesmo tempo que acusa os jornalistas de não encararem este problema de frente. Os reparos, em si, são pertinentes. Resta saber é o que escondem em termos de passagem à acção de um homem que conhecido por transformar alguns dos seus jornais e televisões em instrumentos de influência política, normalmente a favor de conservadores, com Bush à cabeça. Vide a Fox News... Talvez por isso prefira falar em "indústria de informação" (uma provocação de um comerciante, evidentemente...) em vez de imprensa.

Por outro lado, e aqui, sim, acerta tarde mas em cheio, Murdoch defende a dinamização do sites dos jornais, «ultrapassando o mero espelho das edições impressas, com notícias mais viradas para os leitores, comentários que os tornem quase "blogs" e aproveitando melhor as possibilidades de imagem e som». Nada que não tenha sido defendido nos últimos dez anos por quem acompanha de perto o ciberjornalismo. Mas, enfim, nunca é tarde para começar a trabalhar a sério.

Disto resulta que no mundo dos jornais começa a ganhar consistência a percepção, por parte do topo da hierarquia de grandes grupos de comunicação, de que é na Internet que está uma das respostas mais sérias para o futuro da imprensa tradicional. Mas o que se torna necessário que compreendam é que muita coisa terá que mudar para que os velhos jornais não pareçam mesmo "velhos" no ciberespaço. Será necessário reforçar o volume de investimentos em meios técnicos e humanos, adaptar os conteúdos aos formatos e linguagens da Web, hipertextualizar as narrativas jornalísticas, formar ciberjornalistas, alargar espaços de participação dos leitores, e, acima de tudo, estar permanentemente aberto às mudanças em curso.

Se tudo se mantiver como até agora, com um abismo a separar os grandes discursos sobre a era digital da concretização de projectos jornalísticos online como deve ser, a imprensa pode, de facto, vir a viver dias muito difíceis nas próximas décadas.


Memória: há 400 anos, em Anvers...

24.4.05

Eles e os media

O livro Nós, os Media, de Dan Gillmor, não é propriamente uma obra-prima. Mas é um texto em progresso incontornável nos dias que correm.

Um dos maiores trunfos de Gillmor é centrar a sua escrita sempre na perspectiva de um jornalista, e não apenas na de alguém que acompanha a fundo as transformações que as novas tecnologias estão a emular no jornalismo. A páginas tantas, já na parte final, o autor recorda uma ou outra reacção de leitores que estranharam precisamente o facto de ele não ter despido a pele de jornalista para falar no fantástico mundo dos blogues, wikis ou RSS. Não despiu e fez muito bem.

É como jornalista que ele se mostra preocupado, sobretudo na parte inicial, com tendências recentes que estão a desvirtuar muita da prática jornalística contemporânea. Por exemplo, quando refere: «O jornalismo empresarial, que hoje é dominante, está a provocar a diminuição da qualidade para fazer subir os lucros a curto prazo: O que tem o seu lado perverso: tais táticas poderão acabar por nos destruir.»

Ou então, a fazer lembrar um pouco o que se passa no pequeno quintal mediático português: «As fusões tornam a situação ainda mais ameaçadora. Os grupos de informação estão a fundir-se para formarem grupos cada vez maiores. Em muitos casos, o jornalismo sério - e o serviço público - continua a ser a vítima. Tudo isto deixa um vazio informativo que os jornalistas, especialmente os cidadãos-jornalistas, estão a ocupar.»

A expressão "cidadãos-jornalistas" é uma constante em Nós, os Media. Gillmor vê-os como uma força emergente de enorme potencial. Tanto que poderão transformar-se em actores de primeira linha num palco até agora reservado quase exclusivamente aos jornalistas profissionais.

Neste particular, Gillmor traça uma prospectiva de alerta: «A produção de notícias e a reportagem do futuro serão mais parecidas com uma troca de ideias ou com um seminário. A linha divisória entre produtores e consumidores vai esbater-se, provocando alterações, que só agora começamos a antever, nos papéis de cada um dos grupos. (...) A evolução - do jornalismo como lição para o jornalismo veículo de trocas de ideias ou seminário - obrigará a um ajustamento por parte dos diversos grupos de interesses.»

São inúmeras as questões pertinentes que Gillmor levanta, sendo que algumas delas serão para ir aprofundando com o tempo. Mas uma das que talvez merecesse melhor análise neste livro tem que ver com os próprios conceitos de jornalismo e jornalista. Gillmor fala com frequência em cidadãos-jornalistas ou em bloguistas-jornalistas sem precisar bem, em termos teóricos, o que isso significa. Mas este é um debate que ainda agora está a começar.

18.4.05

Salaverría sobre ciberjornalismo

No sítio do Observatório da Imprensa, do Brasil, está disponível uma boa entrevista com Ramón Salaverría, professor da Universidade de Navarra e autor do recente livro Redacción Periodística en Internet.

A emergência de novos géneros jornalísticos, como a infografia interactiva e a reportagem multimédia, o estado da arte do ciberjornalismo em Espanha e noutros países, as dificuldades e oportunidades que a Internet oferece ao jornalismo, o fenómeno dos blogues, a especificidade da escrita jornalística online, de tudo um pouco se fala nesta conversa. Uma maneira óptima de actualizar, rápida e sucintamente, tópicos importantes do jornalismo feito na Web.

14.4.05

O "novo" jornalista

A gradual consolidação do jornalismo na Internet tem conduzido a mudanças substanciais no respeitante ao que passou a ser exigido ao jornalista. Onde quer que o ciberjornalismo se encontre num estádio de desenvolvimento mais adiantado, o recrutamento para redacções multimédia exige ao candidato o domínio alargado de múltiplas capacidades nesta área, bem como a aptidão para trabalhar em ciclos de notícias de actualização permanente. (Ler mais no sítio do Clube de Jornalistas).

6.4.05

De leituras: 'Web Journalism'

James Glen Stovall, professor na Universidade de Alabama, escreveu um livro que, embora simples e despretensioso, pode revelar-se muito útil, quer a professores, quer a alunos que se interessem sobre o jornalismo na Web. Complementado, por exemplo, com a leitura de Nós, os Média, de Dan Gillmor, Web Journalism é uma boa porta de entrada neste mundo em ebulição do jornalismo no ciberespaço.

Em Web Journalism - Practice and Promise of a New Medium, publicado em 2004, Stovall escreve sobre as novas maneiras de contar estórias na Web, as diferenças entre a prática jornalística nos media tradicionais e neste novo medium, a expansão da definição do que é notícia e as especificidades da relação dos ciberjornalistas com os seus leitores. Mas o autor também se preocupa com o design e arquitectura dos sítios, a utilização de áudio, vídeo e gráficos e mesmo com o fotojornalismo na Web.

No final de cada capítulo, Stovall disponibiliza bibliografia e sugere questões para discutir na sala de aula. Prático e útil. Aqui ficam algumas ideias:

«Nenhum web site noticioso está ainda perto de utilizar todo o potencial da Web. A capacidade, imediatez, flexibilidade, permanência e interactividade da Web ainda não foram completamente exploradas por nenhuma empresa jornalística. Jornais, revistas, estações de rádio e estações de televisão, cuja história e investimentos têm sido feitos noutros produtos, têm sido tímidos na aproximação à Web.»

«Os jornalistas da Web estão a aprender a pensar ‘lateralmente’ sobre as suas estórias. Em vez de apenas recolher informação suficiente para escrever uma só estória em pirâmide invertida, um jornalista da web tem de considerar vários tipos de informação que podem ser incluídos como partes de um pacote da estória.»

«À medida que o jornalismo da web se desenvolver, os jornalistas serão chamados a ser mais proficientes nas suas técnicas de reportagem e de escrita e mais versáteis no modo como pensam. A cobertura de acontecimentos de última hora será imediata e contínua, porque a audiência esperará saber o que o jornalista sabe quando o repórter sabe. A cobertura de acontecimentos que não sejam de última hora será mais profunda e completa, porque as audiências esperarão uma rica e variada experiência quando visitam um site noticioso.

5.4.05

O Travessias Digitais

O Travessias Digitais é um blogue-satélite do Travessias, o meu blogue generalista. O Travessias Digitais acolherá textos, apontamentos, breves reflexões e dicas sobre media, novos media (com particular destaque para a Internet), jornalismo e ciberjornalismo.

O Travessias Digitais nasce hoje a título experimental e a sua actualização será intermitente.